É preciso que os alunos se libertem do papel e do lápis e que passem à ação
“É preciso que os alunos se libertem do papel e do lápis e que passem à ação”
25 anos de carreira no ensino permitem uma visão fundamentada de Alexandre Gomes sobre o papel da tecnologia no ensino. O professor de Física e Química e formador do T³ Europa acredita que o caminho da educação tecnológica passa pela evolução da teoria para a prática: “É preciso que os alunos se libertem do papel e do lápis e que passem à ação, e passar à ação com a tecnologia da Texas para mim, faz todo o sentido.”
No entanto, esta mudança de paradigma encontra obstáculos no processo. Para Alexandre Gomes, o principal desafio na implementação da tecnologia, especificamente da linguagem Python, nas escolas é claro. “A maior dificuldade para o Python entrar nas escolas está do lado dos professores que precisam de muita formação para vencerem a barreira inicial, em que consideram que é tudo muito sofisticado, não se sentindo muito confortáveis. Mas depois de vencer essa barreira, a maioria dos professores que têm feito formação acaba por concluir que isto é até muito mais simples do que imaginava”. Apesar da linguagem de programação Python na tecnologia TI ser recente, não se revelou um obstáculo para as gerações mais novas. “Os alunos não têm qualquer dificuldade, muito pelo contrário, têm até facilidade e apetência para trabalhar com estas ferramentas”, remata o professor.
A importância de programar na escola
“Programar, e em particular programar em Python, desenvolve muitas competências que os alunos às vezes têm dificuldade em desenvolver, nomeadamente o pensamento computacional, o pensamento matemático, a previsão e a relação entre causa e efeito”, refere o professor de Física e Química. Confiante de que esta é uma competência chave para futuros profissionais, Alexandre Gomes conclui que programar “é uma forma diferente de desenvolver competências nos alunos e se fizerem parte do currículo, ainda melhor”.
A integração da linguagem Python nas calculadoras pela Texas Instruments não é indiferente na sala de aula, “é bastante acessível principalmente para iniciantes”. O professor da Escola Secundária de São João da Madeira resume: “Aqui está tudo facilitado com os menus e com a sintaxe já pré-escrita, e portanto torna-se muito fácil de começar e desenvolver projetos dos mais simples aos mais complexos, sendo mais intuitivo e mais direto”.
Aplicação prática da tecnologia em vários projetos
O professor orientador do projeto de cadeira de rodas elétrica, vencedor de uma viagem à NASA, pela Universidade de Lisboa, revela outros dois projetos recentes que permitiram aos seus alunos aplicar a tecnologia.
“Um deles é de sistema de comunicação à distância, sendo que um dos recetores é supostamente cego e surdo”. Este projeto procura solucionar o problema de comunicação deste recetor com o cuidador ou familiar. Como? “Com dois microbits que comunicam via rádio, criámos um sistema codificado de mensagens. A pessoa que é cega e surda tem contacto com um motorzinho que vibra e cuja cadência é uma espécie de código morse mas táctil”, explica Alexandre Gomes. “Depois, com os dois botõezinhos do BBC micro:bit, consegue responder a questões simples ou complexas também codificadas”. O seguimento dos trabalhos permitiu não só trabalhar a tecnologia, mas também uma vertente de empatia social. “Se nós transformarmos isto numa comunicação muito mais extensa (nós começámos pelo básico que é sim ou não), pode ser um mega projeto, muito melhor”, conclui.
“O outro projeto, também foi baseado no BBC micro:bit, pensando nas pessoas com deficiência ou com dificuldades motoras”. Neste caso, o projeto procura facilitar a interação destas pessoas com os seus animais de estimação. “Aquilo que nós fizemos foi através de dois micro:bits, um deles adaptado à coleira do cão ou do gato de companhia. Quando o animal se aproximava de uma porta feita especialmente para ele havia uma troca de mensagens codificadas entre o micro:bit do animal e o micro:bit da casa e, se houvesse correspondência, a porta abria e ele entrava”. A simplicidade está na base do que é desenvolvido em sala de aula: “a programação é perfeitamente básica, e os alunos, mesmo a começar, perceberam perfeitamente o que tinham que fazer para que aquilo acontecesse”.
O professor de Física e Química encontra um elemento comum aos dois projetos: a empatia. “Mais uma vez é uma coisa simples, em que há a preocupação com o outro, em que não estamos a usar a tecnologia só para ligar uma luz ou tocar um som qualquer. Nós temos na nossa escola uma unidade de apoio à multideficiência e, por isso, eles veem miúdos e miúdas com limitações das mais variadas. Há miúdos que andam em cadeira de rodas, miúdos que só mexem a cabeça, portanto eles convivem com esta realidade e eventualmente será daí que veio a inspiração”.
À semelhança do projeto vencedor da cadeira de rodas, estes dois serão também apresentados no âmbito de concursos. “Irão ao concurso de programação de BBC micro:bit a nível internacional. Nós fizemos duas coisas que acho muito interessantes com programação em Python, com alunos de 10º ano que nunca tinham programado, obviamente com a minha ajuda, mas conseguiram fazer”, recorda Alexandre Gomes.
TI com papel crucial no acesso à tecnologia e na educação STEM
Em ambiente escolar, a TI tem permitido o acesso ao universo da tecnologia de uma forma mais direta, quase que numa espécie de democratização do acesso à mesma. O professor não tem dúvidas: “Esta tecnologia saiu dos centros de investigação e de estruturas académicas mais sofisticadas para se adaptar ao nível da sala de aula”. E sublinha ainda a acessibilidade da linguagem Python nas calculadoras: “posso fazer um projeto muito sofisticado com o Python que está disponível na TI-Nspire CX mas também posso fazer coisas muito básicas, começando do zero, sem saber praticamente nada. Essa é a grande vantagem do Python na TI-Nspire CX, quando comparado com o Python numa outra plataforma qualquer.”.
No entanto, o trabalho é feito em duas frentes, junto de alunos, mas também de professores. “A Texas tem um mérito que lhe é devido, pois tem feito muito em prol do desenvolvimento profissional dos professores em Portugal”, conclui.
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